O ano era 2015. O fotógrafo espanhol Antonio Guillem, que capturava fotos de pessoas para abastecer sites de venda de imagens, resolveu diversificar seu portfólio.Convidou um trio de modelos para ir com ele à cidade de Girona, na Catalunha, Espanha. A ideia era fazer imagens que retratassem um caso de infidelidade. Após concluir seu trabalho com os três modelos, Guillem colocou a foto à venda na internet que, depois de dois anos, foi usada pela primeira vez como meme, em janeiro de 2017, num grupo turco no Facebook sobre rock progresssivo.
A partir daí, esta imagem serviu como base para milhares de outros memes por todo o mundo e servirá de base agora para entendermos melhor o conceito de virtual apresentado pelo pensador francês Pierre Lévy.
Primeiro precisamos deixar claro que o virtual, nessa discussão, não é aquilo que não existe no “mundo real”, como costuma se pensar. Aqui o virtual não se opõe ao real e sim ao atual, pois ele (o virtual) existe em potência e não em ato. “Uma árvore está virtualmente presente na semente”, assim como um meme está virtualmente presente na fotografia do Guillem.
Outra diferenciação que deve ser feita é entre o virtual e o possível. O possível aqui se apresenta como algo que já está construído, estático, apesar de não estar posto. “O possível é exatamente como o real, só que lhe falta existência”. A constituição do possível não requer inovação de uma ideia ou forma. Já o virtual está ligado a um processo de atualização constante, que se faz necessária por conta das coerções existentes. Onde essas coerções existem? Diria (veja que aqui é João Paulo Sebadelhe dizendo) que tanto no próprio ser, quanto naquilo que o cerca. Então, parafraseando o Lévy, podemos dizer que a fotografia conhece o meme e “a partir das coerções que lhe são próprias, deverá inventá-lo, co-produzi-lo com as circunstâncias que encontrar.
Ou seja, é possível que esta imagem se transforme em um meme, mas a virtualização se dá tanto com as possibilidades que ela oferece de “reorganizar uma problemática anterior” estando aberta à diferentes interpretações, quanto às problemáticas que a cercam e direcionam a uma determinada forma. Penso eu que o virtual está ligado ao processo que envolveu a constituição do seguinte meme:A virtualização está ligada a problemáticas como o fato d’eu estar produzindo um texto sobre memes; ser aluno do professor André Lemos; ter a habilidade necessária para inserir texto em imagem; ter acesso à internet, entre diversas outras que exigem uma constante atualização na criação de um novo meme do namorado distraído.
Referências:
LÉVY, Pierre. O que é o virtual? (Cap.1), 1996
Onde surgiu o meme do namorado distraído?
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